quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O Fim do Jornal da Tarde

Arte: Luciano Amorim

O Jornal da Tarde deixa de circular nesta quarta-feira, a versão impressa do periódico, depois de semanas de boatos. A decisão foi do Grupo Estado na segunda-feira, 29. Segundo a empresa, a determinação leva em conta o objetivo de investir na marca Estadão com uma estratégia multiplataforma integrada, ou seja, papel - jornal impresso, digital, áudio e vídeo e mobile - versão para celulares e smartphones, para levar maior volume de conteúdo a mais leitores, sem barreira de distância e custos de distribuição.

O diretor presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto, declara: "Hoje, o meio jornal é a segunda mídia mais importante para a publicidade, com o dobro de participação do terceiro colocado. Daí a estratégia de focar no Estadão, principal marca do Grupo, e de investir em uma plataforma digital mais robusta e avançada".

Mas, um caderno voltado para o setor automotivo do periódico ainda está vivo. o Jornal do Carro, maior sucesso editorial do mercado de automóveis (e o carro-chefe) do Jornal da Tarde, que circula desde o dia 4 de agosto de 1982 e este ano completou 30 anos. De acorco com a nota, a partir da próxima quarta-feira, dia 7 de novembro, o Jornal do Carro passa a circular encartado no jornal O Estado de S. Paulo (Não sei se continua do mesmo formato, o tabloide ou do standart), ampliado e com novas seções. O Jornal do Carro será a nova marca dos Classificados de Autos do Estadão também às quintas, sábados e domingos.

O novo suplemento automotivo será uma plataforma multimídia de alcance nacional. Aos cadernos semanais publicados no Estadão se somarão, e em 2013, vai ter um portal com o melhor conteúdo do setor, além das dicas de compra e exclusiva tabela de preços online, revistas sazonais e eventos, além do já existente programa aos sábados na rádio Estadão ESPN - Em São Paulo, FM 92,9 e AM 700.

A nota disse ainda que o JT (como a sigla é chamado) deixará de existir, mas suas principais contribuições permanecem no seu irmão mais velho, o Estadão. Os leitores do JT - que nos últimos anos se aproximaram do universo de leitores do Estadão - já podem perceber esta proximidade por meio da vibração e qualidade do caderno de Esportes, do olhar atento do Metrópole e da criatividade e prestação de serviços do Divirta-se, marca original do JT, que circula toda sexta-feira no Estadão.

Com o objetivo de ampliar a estratégia de marcas que compõem o universo do Estadão, junto ao Jornal do Carro somam-se outros importantes títulos que já marcam a cobertura qualificada do jornal, como os cadernos Paladar, Viagem, Caderno 2, Casa, Economia & Negócios, Link, entre outros. E para o Francisco Mesquita Neto, reforça que O Estado de S. Paulo é o jornal número um na Grande São Paulo e, com essas mudanças, vai ficar ainda mais forte.

História

Foto do menino chorando por causa da
derrota da seleção brasileira na Copa de 1982,
foram a maior capa da história do JT.
Créditos: Reprodução
Fundado em 4 de janeiro de 1966, o Jornal da Tarde foi um marco divisor no jornalismo brasileiro, ao incorporar um projeto gráfico audacioso, em que o uso de fotografias era mais estimulado, com a adoção de reportagens mais encorpadas e em estilo literário. Inicialmente vespertino, passou a matutino em 1988. Idealizado por Mino Carta, com o auxílio de Murilo Felisberto, o JT é um dos jornais que apostaram na escola do new journalism americano, de Gay Talese e Truman Capote (1924-1984). Ao longo de seus 46 anos de circulação, o JT foi polo de inovação e criatividade e, com seus premiados jornalismo e design gráfico e sua prestação de serviços, influenciou gerações de leitores e de profissionais da comunicação. O jornal já foi censurado três vezes, entre eles, a ditadura militar nos primeiros anos do periódico.

O jornal produziu capas memoráveis sobre momentos marcantes da História recente do país. Como a capa toda em preto, apenas com o título do jornal no alto, quando o Congresso barrou a Emenda Constitucional do deputado Dante de Oliveira que restituía as eleições diretas no Brasil. Ou a que estampava de alto a baixo a foto de um pequeno torcedor chorando a derrota da Seleção Brasileira por 3 a 2 para a Itália na Copa de 1982, na Espanha. A imagem tresloucada de Jânio Quadros, prefeito recém eleito de São Paulo, em 1985, também foi um clássico das capas.

Atualmente, circulam os cadernos, Seu Bolso, Esportes, Variedades. No primeiro caderno, tem a editoria de opinião, Política, Cidade, Brasil e Mundo. Além disso, circulam os suplementos de Emprego, Turismo, Divirta-se, JT Imóvel e Variedades Domingo. Sem falar do Jornal do Carro.

 ►Saiba mais 
Veja a história completa do Jornal da Tarde no Wikipedia
Veja as capas históricas do Jornal da Tarde

Projeto gráfico

Arte: Luciano Amorim // Imagens: Divulgação e Newseum
Em 5 de abril de 2006 o jornal sofreu sua última grande reforma gráfica e passou a dar mais destaque à prestação de serviços. Em sua redação, foi reunida uma equipe de reportagem policial que contava com nomes como Ivan Ventura, Josmar Jozino e Marinês Campos. Nessa "reciclagem" gráfica foi reintroduzido um caderno falando de estilo de vida, chamado "Revista JT", que, apesar do nome, não era uma revista, e sim, um caderno em formato tabloide, grampeado, em papel semelhante ao sulfite. O suplemento era herança do caderno "Modo de Vida", publicado a partir de 1975 em uma página interna e a partir de 1985 como caderno, às quintas-feiras. O próprio "Modo de Vida" já era herança da seção "Viver", que, por sua vez, tivera origem na seção feminina "Agora é que São Elas", publicada desde o segundo mês de vida do jornal. Ao contrário de seus antecessores, o "Revista JT" não durou muito.

Em 2 de abril de 2008, mais uma "reciclagem" gráfica, baseada na anterior, teve como grandes novidades o caderno de esportes em formato tabloide ao longo de todos os dias da semana e a mudança de nome do caderno "Seu Dinheiro" que passou a ser diário, sob o nome de "Seu bolso". De acordo com a edição do dia seguinte, as mudanças foram aprovadas pela maioria dos leitores.

O jornal ainda publicava, às quintas-feiras, os cadernos "Link" (que atualmente circula no Estadão as segundas), originalmente "Informática", criado no início dos anos 1990 e rebatizado em meados dos anos 2000, e "Turismo", que estreou em 14 de dezembro de 1989 depois de ser apenas uma página semanal por alguns anos. Ambos os cadernos deixaram de ser publicados no início da década de 2010.

Circulação

Arte: Luciano Amorim
Imagens Televisão: Divulgação
Imagens Vídeo: Reprodução/Youtube/Danilorodrigues
O ano de 1990 foi o melhor da história do JT para Francisco Mesquita em entrevista dada no ano seguinte: naquele ano a publicação era o jornal mais vendido em bancas na Grande São Paulo e tinha uma tiragem média que oscilava entre 120 mil (às terças, quintas, sextas e sábados) e 190 mil (às segundas e quartas). No final dos anos 1990 o periódico passou por uma fase de queda nas vendas e tentou ocupar a lacuna deixada pelos tradicionais jornais populares paulistanos, como o Notícias Populares, que foi extinto no início de 2001. Ao longo de 2007 o jornal viu sua circulação média diária na Grande São Paulo subir 6,8%, passando de 44,5 mil em dezembro de 2006 para 47,5 mil um ano depois. Naquele ano o jornal era o quinto em circulação na região, atrás, pela ordem, dos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Agora São Paulo e Diário de S. Paulo. Dois anos depois o jornal decidiu concentrar as vendas apenas na Grande São Paulo, suspendendo a circulação no interior e em outros estados, a não ser por algumas cidades específicas. Com isso, sua circulação média em janeiro de 2011 foi de 42.775 exemplares, um número inferior ao de quatro anos antes, embora o jornal tenha ultrapassado o Diário, que teve circulação média de 33.761 naquele mês. Em agosto de 2012 a circulação tinha caído, novamente, para 37.778 exemplares, mas mantendo uma venda de mais de 50 mil exemplares às quartas-feiras, com a distribuição do Jornal do Carro.

Ainda em julho, depois de anunciar novos cortes de postos na redação do jornal, o Grupo Estado informou que trabalhava para o lançamento de um novo projeto gráfico para elevar sua circulação, mas a ideia não prosperou.

O agradecimento

O diretor presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto finaliza que o a empresa agradece aos leitores do Jornal da Tarde por todos os anos de convivência, aos anunciantes, pelo apoio com que sempre nos prestigiaram, e a todos os profissionais que participaram dessa história: jornalistas, colunistas, publicitários, equipe de arte, integrantes das áreas comercial e administrativa, e das áreas de produção e distribuição.

Repercussão

O jornalista Mino Carta, 79, idealizador do "Jornal da Tarde", disse ao UOL que o fim da publicação, considerada por ele "revolucionária" na época de sua criação, é uma perda para seu coração e sua alma. "A morte de um jornal sempre me entristece, mas, neste caso específico, eu devo dizer que me entristece em dobro, talvez ao cubo, pois foi um jornal que nasceu por obra que uma equipe que eu comandei."

Em seu blog, o jornalista André Forastieri, disse que poderia ressucitar o Jornal da Tarde. Ele diz que se ele fosse o diretor de conteúdo do Grupo Estado, ele relançaria o periódico como um jornal 100% digital, para web, celular e tablets. Uma edição digital diária, vespertina, sempre às 17h, focada na capital paulista e com o pulso das redes sociais. "Muita participação dos leitores. Assinatura grátis, bancado por publicidade e patrocínio.Ia dar rios de dinheiro? Não, mas também não precisa nem deve. Internet não é old mídia. Ia aproveitar toda a equipe atual? Não, e muitos nem se adaptariam", disse Forastieri.

Segundo o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, não deve haver demissão dos cerca de 50 profissionais do Jornal da Tarde pelos próximos 30 dias. “Tivemos uma audiência nesta segunda com a diretoria do Grupo Estado e conseguimos decisão do Tribunal Regional do Trabalho para que todos os jornalistas continuem com estabilidade no jornal por 30 dias enquanto ocorre negociação entre sindicato e empresa para realocações dos jornalistas”, diz o presidente do sindicato, José Augusto Camargo.

De acordo com o portal G1, a expectativa da entidade é que nenhum jornalista seja demitido e, caso dispensas venham a ocorrer, diz que irá avisar à Justiça. Em nova audiência no dia 4 de dezembro será apresentado um plano de realocação dos jornalistas. O sindicato diz que não soube de demissões no "JT" nos últimos dias e semanas.

“Estranhamos muito o Estadão fechar um jornal com a tradição e a história do 'JT'. A posição do sindicato é de defesa desses profissionais para que sejam reaproveitados em todo o grupo – que tem rádio, agência, internet”, diz Camargo.

Repercussão nas redes sociais

O fim do Jornal da Tarde foi o assunto mais comentado no Twitter desde a noite de terça-feira, até a manhã de quarta-feira. São mensagens de tristeza, de lamentar e até de bom humor, como diz o @ThiagoGavioes, que diz como o JT fechou as portas, só falta o Palmeiras cair na Série B do Brasileirão 2012 (por enquanto).

Outras pessoas mencionaram no Twitter que a culpa do encerramento do Jornal da Tarde foi da revolução digital. Eu concordo com eles.

O jornalista Celso Zucatelli, apresentador do programa Hoje em Dia, da Record, disse em seu twitter o @zucatelli, que foi uma notícia triste e iniciou a carreira jornalística no Jornal da Tarde.

Quatro jornais fechados em 2012

E não foi a primeira vez que o Jornal da Tarde é fechado, no início deste mês, o Diário de Natal, do Rio Grande do Norte, deixou de circular após 73 anos de existência. Em fevereiro deste ano, ou seja, há 9 meses, os jornais O Norte, de João Pessoa e do Diário da Borborema, de Campina Grande, encerraram as atividades da versão impressa.

Com o fim do Jornal da Tarde, quatro jornais foram fechados este ano.

Pra mim, foi lamentável o fechamento do Jornal da Tarde, assim como fez com o fechamento dos outros três jornais este ano. O Jornal da Tarde era um dos jornais mais populares de São Paulo, inclusive na classes C, D e E. E eu sempre digo, será que o fechamento do JT - assim como nos outros três jornais que fecharam este ano, foram por causa do efeito do fechamento do 'News of the World', de Londres, em julho do ano passado?! Mas quem sabe um dia, o tão chamado 'JT', voltar a circular na maior cidade do país...

Achei o vídeo do lançamento do Jornal da Tarde em 1966. Naquela época, o jornal chegava as bancas de São Paulo ás 15h. Vídeo do /Arquivos1000 do Youtube.



Então, dou a minha solidariedade aos jornalistas do Jornal da Tarde.

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